O dominó da marginalização chamado escola



Oi, pessoal hoje vou compartilhar uma experiência recente que tive. Bem atualmente tenho trabalhado com uma turma especial de crianças e adolescente analfabetos algo que me dar muito orgulho, pois tenho recebido aqueles que foram rejeitados. Deixa eu explicar melhor.



Tenho um aluno que vou chamar de “André” (nome fictício) este menino tem 15 anos e em seu currículo escolar ele é definido como “causador de problemas”, chegando até mesmo a ser expulso da escola.  Pois bem ele está no 5º ano sem saber as vogais devido à lei do último governante do Rio de Janeiro que determinava aprovação direta até a 4º serie, ou seja, 5º ano. Além de fazer o serviço de professora eu faço um serviço de psicóloga e ele tem me relatado a triste realidade das escolas públicas do estado do Rio de Janeiro.

Bom não demorou muito para perceber que ele é disléxico e devido a isso os métodos utilizados nas escolas não funcionam para ensiná-lo, já o método fonovisuarticulatório teve sucesso total e em 60 dias ele escreve e ler silabicamente, mas o que eu gostaria de relatar é uma história contada por ele.


Logo no início desse ano ele me disse que foi para a escola nova visto que a última o expulsou por mau comportamento e faltas, coisa que ele assume que teve, sua ficha não havia sido mandada de forma que ao começar as aulas ele teve seu primeiro problema.  Assim que a professora distribuiu as folhas ela solicitou que ele escrevesse o nome todo, ele então a informou que não sabia, “como não sabe?” perguntou ela e ele tentou argumentar mais foi interrompido por seus colegas que transformaram o momento numa zoação (brincadeira), “eu também não sei professora” começou a dizer alguns da turma. É claro que a professora entendeu que ele estava de deboche e mandou que ele se sentasse sem mais conversa. Aquilo o chateou bastante e ele resolveu ser o que ela achava que ele era “um criador de problema” afinal já se estava levando a fama.

        Passado alguns dias a mãe dele foi chamada juntamente com ele, a ficha havia chegado, foi quando a responsável da escola informou a ambos que ele seria reprovado aquele ano e no próximo também, pois não adiantava ele ir pra escola. Estranho não é? A lei diz que não podemos deixar os filhos fora da escola, porém não diz o que fazer quando se tem um filho que freqüentou a escola desde os quatro anos e mesmo assim após 10 anos de estudo ainda permanece analfabeto. O ano acabará de começar e já estava reprovado? Como podia ser? Para “André” era óbvio que não tinha motivo para ir pra escola.

        Filho de mãe solteira com cinco filhos, estava ali se repetindo mais uma triste realidade. O que acontece com ele agora? O irmão dele passou pelo mesmo e agora é um marginal. Imaginem um menino de 15 anos analfabeto, rejeitado pela escola. Menino? Bem pro nosso governo é afinal se cometer crimes vai sofrer “medidas sócio educativas”. Até quando o governo vai fechar os olhos para as nossas escolas.

        Agora imaginem se este garoto tivesse um laudo dizendo que ele é disléxico, qual seria a diferença? Bem eu digo, tenho um outro aluno da mesma faixa e também analfabeto que tem o laudo ele também é classificado no currículo escolar como “criador de confusão”, a mãe dele foi instruída a levá-lo a um psicólogo que o recomendou o uso de Ritalina com o objetivo de dar mais foco nós estudos, agora este menino não vive sem o “remédio”.  

Bem funciona como um efeito dominó, aos 9 ou 10 anos a criança está no 4º ano ai ela começa a criar problema pois não consegue aprender pelos métodos da escola, de forma que está  atrasados nos estudos e não acompanha o ritmo da turma, desta forma ele só cópia e digo apenas cópiar mesmo, pois a professora não o ajuda a fazer o dever afinal ela tem 30 pra olhar, assim quando ele leva o caderno pra mostrar ela solicita que ele o guarde e abaixe a cabeça enquanto os outros fazem o dever sozinho. Não participa das atividades, não consegue brincar devido a coordenação motora do disléxico é atrasada e cai muito.  As crianças debocham por ele não conseguir fazer as atividades e ai vem às más influências, logo a professora o enquadra como “aluno problema”, a escola então pede que além do neurologista e da fono a criança faça um acompanhamento com psicólogo daí vem o “remédio milagroso”. É fácil entender por que tem aumentado tanto a venda de Ritalina, afinal famílias desestruturadas, escolas super lotadas que não ensinam e governo que fecha os olhos para o problema.


        Basta pensar por que ao invés de repetência não se adota uma aula de reforço paralela, adotada com métodos diferentes, sabe mais lúdico e fonético? A quem interessa uma massa de adolescentes revoltados com as autoridades e com as instituições de ensino? A quem interessa um massa de menino e meninas analfabetos? 


Deixo aqui o meu desabafo, acreditando que seria melhor que liberassem  o ensino em casa (adotado por 2 milhões de famílias em todo o mundo), pois as escolas públicas estão apresentando um déficit muito grande, não atingindo seu objetivo que é atender e proporcionar educação de qualidade as classes menos favorecidas. Afinal qual a lógica em deixar uma pessoa embaixo do sol cantando o hino nacional e outras que chegaram atrasadas fora do portão da escola olhando e esperando que se termine o hino para entrar? Pra mim isso é marginalizar.


Se a educação sozinha não pode tranformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda. – Paulo Freire

Postagens mais visitadas