A Roda dos Enjeitados.
Não
é de hoje que crianças são abandonadas, porém até o século XIX o termo
"criança abandonada" não existia, elas eram conhecidas como
"enjeitadas" ou "expostas".
O
abandono infantil persegue a humanidade desde tempos remotos, porém foi somente
na Idade Média que a situação começou a ser tratada com mais seriedade. Naquela
época a Europa havia passado por diversos períodos de fome, pobreza e sucumbiu
com a Peste Negra entre os séculos XIII e XIV. Tais fatores levavam a população
a abandonarem seus filhos nas ruas e, em algumas situações, até cometerem
infanticídios (homicídio do filho por sua própria mãe, durante seu estado
puerperal).
Esse
estado de calamidade forçou a Igreja e as monarquias a criarem práticas de
assistências às crianças expostas. Dessa forma, no século XIII foi iniciado o
recolhimento de crianças abandonadas e entregues às Casas de Misericórdia, onde
ficavam também os doentes, mendigos e loucos.
Juntamente
ao recolhimento das crianças, a Igreja criou a contraditória roda dos expostos
ou dos enjeitados. Elas eram instaladas nos muros das Casas de Misericórdia e
conventos para o recebimento de recém-nascidos abandonados. Após a criança ser
colocada numa porta giratória, a pessoa que estava entregando o bebê, girava a
roda e puxava uma corda com um sino para avisar que uma criança acabava de ser
abandonada.
A
prática, então, se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil com a colonização. A
quantidade de crianças deixadas sozinhas nas ruas de Salvador fez com que fosse
feito um pedido junto ao vice-rei para a instalação de uma roda dos enjeitados.
Então, em 1726 o Brasil recebeu sua primeira roda.
A
partir de então, as rodas foram largamente utilizadas na colônia até que em
1950, com a prática já em declínio, a última roda, em São Paulo, foi
desativada.
A
pobreza era o principal motivo para o abandono das crianças, como é possível
ver em bilhetes e cartas deixadas junto aos bebês, por exemplo (mais cartas
aqui:http://goo.gl/LJP1g7):
"Pelas
chagas de Cristo
Lhe
peço guardarem este papel
Junto
com meu filho que, eu, se deus
Me
der vida e saúde, daqui alguns meses darei
O
que eu puder para encontrar meu filho.
Peço
não o darem sem que levem uma carta
igual
a esta e o retrato também
Se
morrermos sem nos vermos mais, que Deus nos junte nos Céus
Adeus
Meu Filho pede a Deus por mim, Adeus."
(Tradução:
Maria Nazarete de Barros Andrade – Coordenadora do Museu e Capela da Santa Casa
de Misericórdia de SP)
Na
foto há diversas crianças que foram abandonadas na roda dos expostos (enjeitados),
no "Asylo dos Expostos".
Texto
de Talita Lopes Cavalcante
Administração
Imagens Históricas
Foto
retirada da Revista A Cigarra, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919.
Fontes:
https://www.facebook.com/HistoricasImagens?hc_location=stream
-
"O que foi a "Roda dos Expostos"?". Museu Eng. Augusto
Carlos Ferreira Velloso. Santa Casa de São Paulo. Disponível em
<>.
Acessado em: 30 jul. 2013.
-
VALDEZ, Diane. “Inocentes expostos”: o abandono de crianças na Província de
Goiás no século XIX". Universidade Federal de Goiás, 2004.